No Brasil é comum ler referencias ao termo “Risk Appetite” como Apetite a Riscos, no entanto precisamos combinar que gramaticalmente o uso desse substantivo em português, segundo a norma culta seria Apetite por Riscos. Mas para não contrariar a costume, vamos seguir escrevendo como se lê por ai. Combinado?
O COSO ERM define como sendo os tipos e o nível de risco, de forma abrangente, que uma organização está disposta a aceitar na busca de valor.
Além disso, alguns pontos chave merecem destaque:
◇ É intencionalmente amplo para ser aplicado em uma organização, podendo ser diferente nas diversas áreas da organização.
◇ Concentra-se no risco que precisa ser assumido para buscar estratégias que aumentem o sucesso a longo prazo.
◇ O risco é mais do que decisões individuais.
◇ Está ligado às decisões que a organização faz sobre como operar, criar e preservar valor.
É importante ressaltar também a diferença entre apetite e tolerância a risco, conceitos que são bastante confundidos. O apetite a risco é caracterizado pelo quanto de risco, de forma qualitativa, a organização está disposta a correr. Já a tolerância a risco é caracterizada pelo nível de aceitação, de forma quantitativa, e deve ser mensurada.
A tomada de riscos é inerente ao negócio de toda empresa que quer inovar e crescer. O apetite a risco orienta a forma como a organização distribui recursos, de acordo com a missão, visão e valores fundamentais da entidade.
Os Conselhos de Administração são bons em questionar estratégias e abordar questões significativas que podem ajudar a definir o apetite a risco da organização. Cabe aos Conselhos e a Alta Administração endossar a importância do apetite a risco e criar as práticas e a cultura necessárias para dar vida e disseminá-lo dentro de uma organização.
Além disso, alguém em nível sênior na organização, escolhido pelo Conselho e Alta Administração, precisa assumir a tarefa de apoiar seu uso, ajudando as equipes de linha de frente e operacional a incorporar o apetite a riscos nas práticas do dia a dia e desenvolver os indicadores necessários. Geralmente, na ausência de alguém responsável, os esforços para desenvolver o apetite raramente são mantidos no dia a dia.
Outra boa prática é desenvolver um conjunto de princípios orientadores (política e/ou manual) de fácil consulta para uso no gerenciamento diário. Em termos práticos, a política de riscos deve incorporar o tipo de risco que a empresa está disposta a tomar para o desenvolvimento da estratégia e quais são os níveis de risco que a organização está disposta a tomar para cada tipo.
Também deve a política de riscos; estabelecer alçadas para tomada de decisão alinhadas com o apetite da companhia.
As cinco verdades sobre apetite a riscos:
1. O apetite a risco não é uma estrutura separada.
É parte integrante do gerenciamento de riscos, comunicação e operação de uma organização.
2. Apetite a risco é diferente de tolerância a risco.
Vários documentos usam estes termos de maneiras diferentes. Isso aumenta a confusão na compreensão de seus significados, embora relacionados, são idéias diferentes, como já mencionamos acima.
3. O apetite a risco está no coração da tomada de decisões.
É igualmente importante para determinar que uma decisão é necessária.
4. O apetite a risco é muito mais do que uma métrica.
Frequentemente, ele é tratado como parte de uma abordagem onde cada métrica recebe um apetite alvo. Embora tal abordagem seja importante, uma melhor aplicação do apetite pelo risco pode levar uma organização a oportunidades proativas e voltadas para o futuro, unindo apetite e estratégia para ações futuras.
5. O apetite a riscos ajuda a aumentar a transparência.
Um apetite a riscos bem formado e comunicado fornece percepção dos riscos que a organização deseja assumir, bem como aqueles que deseja mitigar.
Na prática, desenvolver o apetite a risco é o início do compromisso de uma organização com o gerenciamento de risco eficaz, agregando valor na busca dos objetivos organizacionais.
É papel da Administração desenvolver o apetite a risco e obter a aprovação do Conselho de que o mesmo está alinhado com a estratégia da organização.
Considerações importantes:
- A gestão deve comunicar de forma eficaz e clara: objetivos, estratégias, métricas, prazos e faixas de risco que a organização está disposta a assumir na busca dos objetivos em nível global, funcional e operacional.
- As faixas aceitáveis de risco devem ser avaliadas no nível do Conselho em conjunto com a equipe de gerenciamento sênior.
- O apetite a risco deve ser aplicado regularmente em todas as funções e unidades da organização, construindo a visão de apetite a risco do Conselho na cultura organizacional em todos os níveis.
- Alinhar com as partes interessadas e funcionários, através de um processo de governança robusto para garantir que os sistemas de remuneração e incentivos sejam alinhados com os objetivos da organização e são gerenciados para se enquadrarem no apetite a risco da organização.
- Monitorar regularmente a aderência ao apetite a risco, bem como seus processos de gerenciamento de riscos, reportando ao Comitê de Auditoria e / ou Conselho e aos membros relevantes da Diretoria Executiva.
- Apoiar a cultura de riscos pois, o tom no topo influencia a organização. É necessário que os riscos sejam gerenciados dentro de limites aceitáveis, como parte da cultura da organização em sua declaração pública de valores essenciais.
- Os recursos devem ser disponíveis e dedicados a operar dentro do apetite definido.
Um caso real…
Em 2019, uma das maiores empresas de equipamentos médicos não conseguiu identificar uma grande falha na atualização de seu software usado para complementar diagnósticos médicos. Infelizmente, o software atualizado falhou em uma baixa porcentagem de casos, porém, havia a possibilidade de causar danos e até mesmo a morte de pacientes em decorrência do erro.
O software não foi extensivamente testado, embora algumas falhas tenham sido observadas enquanto o produto estava em desenvolvimento. Uma implementação rápida do produto era importante para a gestão, visando vencer os concorrentes no mercado.
O que deu errado?
Pode-se dizer que a empresa não entendeu o tipo de risco, ou que o risco de fracasso era muito baixo, ou que o tempo de desenvolvimento e uso do apetite neste contexto não seria benéfico. Outros podem dizer que ter o apetite por direcionamento do Conselho estaria muito longe dos riscos reais.
Como muitas organizações fazem, esta perdeu a oportunidade de discutir qual e quanto de risco deveria ser, não apenas aceito, mas assumido, ao perseguir seu objetivo de trazer com sucesso este produto atualizado ao mercado.
Além disso, havia uma questão sobre a compreensão de como o apetite da empresa estava mudando. Por exemplo, a empresa vinha apresentando desempenho insatisfatório no mercado de ações. Ela mudou sua sede para uma nova região do país, onde havia um forte centro financeiro, enquanto deixava seu grupo de desenvolvimento de produtos em uma parte do país com fortes recursos de engenharia. O conselho decidiu aumentar o valor das ações por meio de um programa massivo de recompra de ações. Isso levou a um lucro maior por ação, mas também afastou a empresa de sua herança de engenharia e inovação. Conclusão: o apetite a risco da empresa estava mudando, de fato aumentando, à medida que a empresa buscava melhorar o retorno para os acionistas.
Como uma visão mais abrangente dos objetivos e riscos pode ajudar?
Há muitas maneiras de examinar os objetivos e os riscos associados que a empresa de equipamentos médicos enfrenta. Por exemplo, havia o risco de penalidades financeiras se o equipamento médico não fosse entregue no prazo, criando incerteza sobre a capacidade de cumprir os objetivos de desempenho financeiro. Havia uma tensão entre reduzir o risco da precisão do produto e melhorar as recompensas financeiras para entregar no prazo e cimentar o futuro com uma reputação de inovação e qualidade. Ao mesmo tempo, a capacidade de inovação estava diminuindo. Além disso, as partes interessadas, engenheiros, médicos e pacientes podem ter uma visão diferente do que constitui um risco aceitável.
Um apetite de risco melhor articulado teria ajudado esta empresa médica? A resposta é um sim inequívoco. O que podemos aprender com isso?
Existem várias lições importantes a aprender com nossa empresa de equipamentos médicos.
- Às vezes, riscos considerados de baixa probabilidade ocorrem, mas isso pode não significar que o apetite estava errado ou que as decisões foram erradas. O importante era que a administração precisava ser diligente na avaliação de sua capacidade de levar este produto atualizado ao mercado, com poucas consequências para a reputação e marca da empresa.
- Uma narrativa bem construída fornecendo orientação para a tomada de decisões teria ajudado nessa situação. Teria proporcionado clareza aos que tomam decisões e confiança aos responsáveis pela supervisão de que as decisões refletem as visões coletivas do conselho e da administração sobre o risco. Também proporcionaria transparência a outras pessoas que desejam compreender melhor os riscos considerados dentro do seu apetite.
- Ter um apetite claro teria fornecido uma melhor compreensão de se os riscos em trazer este produto ao mercado estavam dentro do nível de conforto da administração ou se, coletivamente, eles excediam a quantidade aceitável de risco.
As organizações assumem riscos para ter sucesso. Definir e compreender o apetite por risco (agora sim usando a forma correta de escrever) é um elemento importante da governança corporativa, planejamento estratégico e tomada de decisão. Determinar o apetite requer discussões profundas entre gestão executiva e Conselhos de Administração e, para ser eficaz, deve permear a cultura organizacional.
📹 Se você tiver curiosidade em compreender em mais detalhes, veja a animação preparada pela RISKID que explica de forma humorada os conceitos de Apetite por Riscos. https://www.youtube.com/watch?v=472icB72cEU
⚠️ Nós podemos ajudar a sua empresa a discutir internamente e definir o apetite por riscos e ajudar na revisão da política de riscos.
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Fonte:
- Risk Appetite – Critical to Success – Using Risk Appetite to thrive in a changing world – Maio 2020
- COSO ERM – Enterprise Risk Management – Integrated Framework – Junho 2017
- Thought Leadership in ERM | Enterprise Risk Management — Understanding and Communicating Risk Appetite – Janeiro 2012
- Risk Appetite (EN) – RISKID
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